… O que espanta
nos seus quadros é a absoluta liberdade de concepção,
a ausência total de freios à fantasia. Autodidata, ela teve
de aprender sozinha a dominar a técnica de pintura.
... Assim, Solange foi aprendendo a controlar o espaço, a forma, as cores. Hoje apesar de fazer um trabalho inteiramente individualista, puro floramento de imagens subconscientes, “primitivo” no sentido de temática, ela não foge à linguagem de seu tempo. Há, na limpidez e simplicidade das formas, uma preocupação com a eficácia da comunicação. O tratamento nunca é autocompadecido ou depressivo, mas crítico, muitas vezes deslizando para o mais aberto humor. As formas fluem e se integram; o que é roupa de um ser zoomórfico de repente se transforma na cabeça de um homem. Um ser bicéfalo (homem-mulher) transforma-se em planta ou em fantasma de si mesmo; um homem conversa com seu alter-ego meio bicho meio vegetal. O trabalho dela se inscreve neste ramo da pintura em que o que importa é a comunicação das ivências profundas. É uma pintura – aprendizado de viver. Seu mundo tem muito de primeira descoberta da vida – a tentativa de harmonizar impulsos contraditórios, de integrar segmentos fragmentários numa visão única, de atingir uma certa maturação. E a força de sua comunicação reside no fato de que o trabalho psicológico a que se propõe é comum a todos. É por isso que as imagens que cria, são ao mesmo tempo surpreendentes e vagamente familiares... Vera
Pedrosa – Correio da Manhã – 1968 |